1 de mar. de 1987

Dr. Jekyll & Mr. Hyde

O ano de 87 marca o que seria, a partir de então, uma constante na minha vida, o início de uma jornada de aprendizado, em muitos aspectos não apenas na educação formal fornecida pelas escolas.
Estudava em uma escola estadual próxima a minha casa, colado a esta escola existia o que na época era um dos piores bairros da cidade e na escola haviam muitos alunos que vinham dali. Nunca tive problemas em me relacionar com qualquer tipo de pessoa, tanto as mais abastadas quanto as mais humildes, ma confesso que muitas vezes fui para a escola com medo. Estudava no período da tarde, e como a escola era bem pequena lembro que eram ministradas aulas apenas da primeira à quarta séries, não lembro bem ao certo, mas deviam haver no máximo oito turmas.
Lembro que eu não era um bom aluno, para falar a verdade lembro que era MUITO desleixado, certa vez a professora que tinha mania de recolher os cadernos dos alunos uma ou duas vezes por mês, para garantir que todos realizavam as tarefas por ela solicitadas, na hora da devolução dos mesmos ficou com o meu e com o de mais uma coleguinha.
Levantou o caderno limpo e bem encapado da minha colega e começou a tecer uma enorme lista de elogios e comentários positivos sobre a organização, asseio, capricho e caligrafia da mesma. Efusivamente parabenizou-a e lhe devolveu o caderno, sob os olhares atentos de todos os outros trinta ou quarenta alunos. Voltou a sua mesa e levantando o meu caderno para os alunos, mostrou todas as minhas falhas, lembro até hoje, meu caderno havia sido encapado com um saco plástico, este havia furado e a capa agora estava totalmente retorcida por dentro do plástico, ficando amassada e suja, todas as folhas do caderno tinham orelhas, em diversas delas as orelhas estavam presentes em mais do que um lado, a minha letra era simplesmente horrenda, como se um ogro tivesse tentando, sem sucesso, utilizar um lápis, as pinturas não obedeciam as margens dos desenhos, enfim... o meu caderno estava para o caderno da minha colega assim como Mr. Hyde está para o Dr. Jekyll.



É a primeira referência de uma humilhação publica que recordo, haveriam outras, eu ainda não sabia... mas já conseguia sentir e desprezar o amargo gosto que elas trariam.

Por hora é isso, um abraço e uma viva bem…

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